Daqui a alguns meses serão 10 anos de Polineuropatia Inflamatória Desmielinizante Crônica. Aquilo que começou com um diagnóstico de Síndrome de Guillain-Barré logo se revelou em algo que iria mudar a minha vida (talvez) para sempre. Ainda me lembro do meu médico me explicando o que é que eu tinha. "Caramba! O que é que é isso? Parece complicado!" Eu pensei que "era só fazer o tratamento" e pronto. Sim, estava passando por um momento difícil, mas logo "passaria" realmente.
E passou. Ao menos por alguns meses.
Quando voltei para casa eu pensava em retomar a minha vida normal. Mas como diz Caetano: De perto ninguém é normal. Sim, quando examinado de perto as coisas mudaram. Até o nome da doença complicou mais: Polineuropatia Inflamatória Desmielizante Crônica. O que é isso? É de comer? É de passar no cabelo?
Acho que muitos de nós com CIDP, PIDC, têm suas vidas muito mudadas e passamos por uma fase de: "como isso foi acontecer comigo? qual foi o vírus, afinal? não tem cura mesmo? até quando que eu vou aguentar? não estou aceitando bem isso, estou deprimido. E se tiver algo que eu ainda não tentei? será que noutro país tem alguma cura? o que vai acontecer quando eu ficar mais velho? Será que não vou andar mais? Será? Será? Será?"
Como dizia Doris Day: "Que será, será.", "Whatever will be, will be". E o céu continua azul.
Essas são as perguntas mais comuns no meio de tantos pacientes com quem eu converso. Geralmente os pacientes mais novos de CIDP. Os mais velhos já não pensam tanto nelas, pensam mais em não piorarem e no comportamento que devem ter para não espantar os amigos, a família, os netos.
Nesse ponto, a CIDP não é diferente de nenhuma doença que agrava a sua condição física. Sim, é uma doença difícil, cria limitações, mas outras doenças também criam: diabetes, hipertensão, insuficiência renal, labirintite, polio, doenças cardíacas e outras.
Ao mesmo tempo, a doença nos faz pensar mais e apreciar as coisas simples que ainda podemos fazer. Andar, por exemplo. Eu consigo andar, dirigir, sentar e levantar. Claro que não como eu gostaria. Gostaria de escalar montanhas e rochas como costumava fazer, mas agora não dá mais para mim. Eu não vou inventar uma engenhoca para poder continuar nos mesmos níveis de antes. Vou adaptar (já escolhi isso há muito tempo) a minha vida para fazer outras coisas e achar satisfação em novas coisas que eu ainda não fazia. Escrever, por exemplo. Fazer vídeos, ler mais ainda, cantar, estudar mais, colecionar computadores antigos, ajudar outros pacientes...
Para aceitar de vez a nova vida de CIDP, eu acho que alguns passos são essenciais:
1. Entender que o seu corpo não é mais o mesmo.
Pensa que é fácil? Você estava acostumado a andar, correr, pular, carregar peso... mas agora é diferente. Você passou por um "perrengue" danado só para poder voltar para casa, não é? Você foi embora do hospital, mas a CIDP pode ter ido para casa com você. Entender que o seu corpo não é mais o mesmo significa ter mais cuidados, pensar mais antes de fazer as coisas e ter muita paciência consigo mesmo. CIDP e Guillain-Barré são doenças diferentes. Até hoje eu não vi, nem ouvi sobre um paciente de CIDP que tenha simplesmente voltado ao estado anterior de força, capacidade de locomoção, equilíbrio e sensibilidade. Mas, já vi muitos que "dão o sangue" todos os dias na fisioterapia, na alimentação e no bom humor para continuar se sentido relevantes.
2. Conhecer os seus NOVOS limites.
Será que você vai conseguir ficar duas horas andando pelo shopping com a família para fazer compras? Vai precisar de bengala ou um carrinho elétrico (scooter)? Será que dá pra trabalhar em pé atrás do balcão da mesma maneira que você fazia antes? Será que dá para ir jogar bola com os companheiros? Você não vai deixar de fazer essas atividades, necessariamente. Mas, com certeza, os seus limites mudaram. Talvez não dê para sair a pé e fazer aquela excursão para comprar roupas no centro da cidade e ir passando de loja em loja por horas e horas. Você e a família têm de aprender os novos limites. Tanto você, em querer fazer tudo, quanto a família em querer que você continue fazendo tudo. Algumas vezes você não vai. Noutras vezes vai fazer algum plano para conseguir ir. Todos têm de entender a nova condição e dar o maior suporte.
Quando eu morava no Japão (intercâmbio estudantil em 1988) tive o maior exemplo de força de vontade e continuidade: a senhora da família que me acolheu por um ano teve um derrame e ficou com sequelas, paralisia de parte do corpo, andava com muita dificuldade. Ora, ela era quem mais trabalhava no sítio da família, todos os dias, mas agora não podia mais no mesmo ritmo e nem nas mesmas tarefas. Ora, será que ela podia fazer algo ainda? Claro que sim. Mesmo com a paralisia, a colocavam no carro e lá no sítio ela sentava no meio da horta e com apenas uma mão ia renovando as ervas daninhas. Numa tarde, ela conseguia avançar apenas uns poucos metros, mas essa era a tarefa dela. E a vida continuou.
3. Manter a mente e o corpo ocupados.
Você consegue trabalhar? Então trabalhe. Consegue andar? Então ande. Consegue ler? Então leia. Não fique vendo TV o dia inteiro. Saia de casa e vá comprar coisas no supermercado. Converse com as pessoas e invente coisas para fazer. Faça cursos pela internet, escreva comentários para os outros pacientes de CIDP, conte a sua história, cozinhe, brinque com os filhos no chão, entre para um grupo de apoio, não fique apenas parado se perguntando "porque eu?".
É preciso força de vontade para mudar. Às vezes, conversar ou receber a visita de outro paciente com CIDP pode te abrir os olhos para coisas que você pode fazer e te dar uma nova perspectiva de futuro. Eu comecei a escrever um blog, canal do YouTube e entrei para a fundação internacional. Descobri que podia ajudar os outros compartilhando a minha experiência em CIDP. Você não achava que tinha dons antes da CIDP? E agora? Os dons estão em você! Ë claro que estão. Que outros dons você pode desenvolver? Precisa de ajuda?
4. Aprender a administrar as novas situações e ter bom humor.
"Caramba! Eu não consigo mais me mexer direito e você ainda quer que eu tenha bom humor?" Sim, eu quero. Primeiro, ninguém (nem você mesmo) tem culpa de ter CIDP, muito menos os outros. O que vai acontecer se quando aquele amigo vem te ver você ficar reclamando das dores, formigamentos, que não consegue mais fazer isso ou aquilo? Com o tempo o cara vai enjoar. Não vai ter mais prazer em vir te ver. E os seus filhos? A mesma coisa. É assim que funciona. As pessoas gostam de estar com outras pessoas bem-humoradas. Vai haver dias em que você não vai estar muito para conversa, mas vão ser as exceções, não vai ser o seu dia a dia.
Segundo, o melhor comportamento para não influenciar os filhos negativamente é manter o bom humor e fazer parecer que a sua situação é simplesmente uma nova condição da família, tratar com naturalidade, sem alardes e sem sensacionalismo. Principalmente com os filhos, eles precisam de segurança e aos poucos vão aprendendo que essa é a sua nova situação, mas que você está lá; você continua lá com eles. A ideia não é deixar de participar, é usar dos recursos para continuar participando. Quando vamos viajar, planejamos e já sabemos onde ir, a hora de nos dividirmos porque preciso descansar, o que levar, como levar, etc. Naturalmente as pessoas da família vão ficando mais à vontade e mais acostumadas. O mesmo com os amigos. Acho que o segredo é a integração.
Com essas dicas, acho que dá para exercitar a integração e combater aqueles momentos em que a auto-piedade aparece. Assistir vídeos e ouvir histórias de outros pacientes de CIDP que se superaram e continuam lutando, alguns que tiveram e têm sequelas piores que as minhas e fazem mais do que eu, ajuda a recalibrar a realidade e aumentar a motivação.
Tamo junto!
Que depoimento sensacional! Já tenho há 20 anos, mas agora tenho sentido mais com o peso da idade. Tenho 51. Mas malho, viajo, trabalho em 03 lugares (sou assistente social). Ãs vezes dá um bode, mas tento segurar a onda! Quem não tem bofe? Obrigado pelo depoimento!
ResponderExcluirDionísio quais os medicamentos que vc toma?
ExcluirMuito obrigado Dionísio. Acho que no final das contas, precisamos encontrar um estilo de vida que nos satisfaça. Com os sem CIDP. Não é?
ResponderExcluirAbraços,
Marcio
Márcio a imunoglobalina que vc trata e pelo plano de saúde?
ExcluirMárcio, tudo bem? Como é o tratamento? Tenho um filho de 4 anos diagnosticado ano passado com CIDP. Já tomou Gama duas vezes, entrou no corticoide e toma imuran. Encerramos o corticoide e ele ficou bons meses sem qualquer recaída. Mas de alguns dias pra cá voltou a ter cansaço e os braços estão diferentes. Como funciona o seu tratamento? Demorou para encontrar a melhor medicação? Obrigada. Desirée Giorgi
ResponderExcluirBoa noite.Estou com minha irmã internada com esse diagnóstico.Sou do.Rio de Janeiro .Vcs podem me indicar um especialista dessa polineuropatia.Além da fraqueza muacular ela tem falta de ar e necessita de oxigênio .Começou em Novembro de 2017 com uma dor no joelho que parecia ser caso de ortopedia.Porém depois de muito sacrifício foi diagnoaticada a pouco tempo com essa CIPD .Fez Imunoglobulina Humana tem 1 semana.Esta fazendo sessões de fisiotetapia mas gostaria de leva la qdo tiver alta ao um especialista pra poder pelo menos melhorar a parte respiratória.Tania Mara
ResponderExcluirSegue neurologista Dr Duarte Pinto.
ExcluirEndereço Rua Xavier da Silveira 46/505.copacabana.
Me trato com Dr Duarte Pinto .
ExcluirRua Xavier da Silveira 46/505
Copacabana rj
Que depoimento lindo, nossas histórias da um livro e com muitas páginas, realmente temos que continuar a vida. não podemos deixar o medo nos vencer e nem a depressão nos alcançar, realmente temos que lê livro, escrever história e ocupa nossa cabeça com algo de suma importância, pois a vida continua.
ResponderExcluirMeu marido tem essa doença faz o uso de gabapentina mais pra ele não faz efeito faz 5 anos que ele descobriu que tem mais só agora que a doença começou a piorar
ResponderExcluirQue tratamento atualmente seu marido está fazendo. É o seu estado clínico?
ExcluirTenho essa doenca a 7 anos eu tenho 34 anos hj ...faço imunoglobulina mensal 120 gramas mensal ...Não é fácil mas graças a deus estou de pé posso fazer minhas coisas com pouco de dificuldade mas quase normal ...Mas quando falta a medicação fico ruim ..Mas estamos aí na espera de uma cura ...
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