quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A Síndrome de Guillain-Barré no Início

O Brasil está passando por um crescimento nos casos da Síndrome de Guillain-Barré.

Outro dia, enquanto esperava a enfermeira Daisy me chamar para mais uma sessão de 8 horas de imunoglobulinas na clínica onde faço minhas infusões, a TV da sala espera noticiava casos da SGB.

Confesso que foi uma surpresa, pois nunca pensei que uma doença rara ficasse popular. Falo isso porque sempre que alguém me pergunta o que eu "tenho", digo que é Síndrome de Guillain-Barré, mas ninguém nunca ouviu falar.

Eu escolho primeiro dizer que tenho Guillain-Barré e se a conversa continua, eu falo que, na verdade é Polineuropatia Inflamatória Desmielinizante Crônica. Imagine se eu começasse por esse nome!

Mas por causa do aumento dos casos de SGB por causa do zika eu resgatei um post que foi o primeiro que fiz nesse blog e reproduzi abaixo. Muitos pacientes devem estar passando por situação semelhante.

Muita coisa mudou desde 2006, quando tive SGB, e algumas preocupações que externei no post abaixo, já não são mais, foram apenas incorporadas na minha vida e já trato isso como um coisa normal: andar de bengala às vezes, ou de cadeira de rodas, conviver com uma fraqueza permanente nas pernas e entender que não dá mais para fazer algumas coisas. Essa última é a mais sutil e também a mais importante para se conviver com a doença, mesmo que as pessoas ao redor demorem para entender isso.

Hoje em dia, com um catéter central sob a pele, faço infusões de 40g de imunoglobulinas a cada 14 dias. Não dá para voltar à condição de "aspirante a normal", mas a meta também mudou: o importante é se manter estável e não piorar.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009


No Início....a polirradiculoneurite aguda


Em 2006 eu fui diagnosticado com a Síndrome de Guillain Barre ou polirradiculoneurite aguda. É uma doença um tanto rara que afeta 1 em 100.000 habitantes. A característica principal é a paralisação (na fase aguda) dos membros superiores e inferiores. No meu caso foram as pernas.

Um belo dia eu acordei com os sintomas de gripe: olhos lacrimejando, garganta irritada, corpo mole, mas com um sintoma a mais, as pernas estavam muito fracas, quase não conseguia levantar da cama, precisava fazer um esforço enorme para dar um passo, parece que tinha uns dois quilos de chumbo em cada pé; para descer a escada de casa então nem se fala, agarrava no corrimão e ia puxando o corpo tanto pra descer quanto para subir. Nunca tinha me sentido assim antes.

Fui ao hospital e o médico me mandou pra casa: é uma gripe forte, disse ele. Fiquei descansando em casa e os sintomas da gripe melhoraram um pouco, ficou a fraqueza nas pernas. Tive que ir atender um cliente no mesmo dia à noite no Alphaville, uma região perto de São Paulo. Foi um custo para me locomover até o local, subir e descer as escadas. Eu sabia que algo estava muito errado. Feito o trabalho, pedi a um amigo que me deixasse no hospital, tinha de investigar o que se passava. 

Dei entrada no Hospital Israelita Albert Einstein por volta de 1:30 AM e o neurologista de plantão disse que era Guillain-Barré (somente pelo exame clínico dos reflexos, ou da falta de reflexos). Ainda no pronto-atendimento eu fiz a famosa punção lombar para retirar o liquor da medula espinhal, um exame típico nesses casos. Depois disso fui para o meu quarto, na internação.
Fiquei internado por 5 dias tratando com imunoglobulinas e melhorei muito. Foram 8 horas de infusão direto na veia com apenas imunoglobulinas. Também fui diagnosticado com pneumonia e a secreção pulmonar foi levada para análise para ver se continha micoplasma. A Síndrome de Guillan- Barré, como também é conhecida essa doença, pode ser iniciada após o contato com vírus de gripe ou pneumonia, ou outros vírus.

O diagnóstico foi polirradiculoneurite aguda mesmo. Fiz fisio para o pulmão com ventilação assistida para fortalecer os músculos pois a evolução da doença pode levar à parada respiratória.
Voltei para a casa me sentindo bem, andando normalmente, já sem fraqueza. 

Alguns meses depois continuava me sentindo fraco, mas não paralisado como na fase aguda. Com dificuldade para subir escadas e vencer obstáculos, algumas dores no quadríceps (na coxa).

Voltei ao médico, fiz a eletroneuromiografia (o pior exame que existe na face da Terra e se brincar, em todo o universo). Os resultados apontaram mesmo para uma Doença Neurológica Crônica ou Chronic Inflammatory Demyelinating Polyneuropathy, CIDP; a Polineuropatia Inflamatória Desmielinizante Crônica, PDIC. A GBS tinha se tornado crônica.
Fui internado para fazer mais 5 dias de imunoglobulinas e continuei uma vez por mês por 4 meses. Não adiantou. Fui para a hidroterapia e melhorou ou pouco, mas depois de uns 6 meses continuou piorando.

Fiz outra eletroneuromiografia (foi difícil aguentar aqueles choques e agulhas, ma seu já sabia o que esperar). O resultado mostrou uma piora significativa na condição axonal da CIDP. Dava pra sentir mesmo no dia-a-dia que estava mais difícil pra andar.

Tive outros episódios de ter de ficar em casa com o calcanhar inflamado, cada vez mais fraco, sem equilíbrio, não posso fazer esportes (claro, ando com dificuldade, subo escadas com dificuldade), nem caminhadas, correr, as mãos estão sempre dormentes e os músculos da coxa dóem.

Pesquisando na Internet eu vi casos parecidos com o meu, muito parecidos. Mas pessoas que tiveram paralisias piores do que a minha e dores. Também há relatos de pessoas que conseguiram se curar e 
têm uma vida normal. 5% dos pacientes sucumbem.

Qual será o meu destino nessa história?
Eu sei que estou cansado dessa doença, cansado de médicos e hospitais e exames e cansado do cansaço. Até quando isso vai durar?

Esqueci de falar das quedas também. Pela falta de reflexos, qualquer topada em algo no chão pode resultar em queda. E quedas geram a inflamação dos ossos.
Estou admitindo agora que estou mesmo doente. Quando alguém tem uma doença, geralmente os outros, reconhecemos que é uma característica daquela pessoa. Quando vemos uma pessoa com diabetes, por exemplo, aquilo fica sempre associado à pessoa. Eu estou vendo que também sou assim, não era apenas um gripe ou doença passageira, é uma condição. Tornou-se uma característica minha. Eu sou um doente!
Caramba. Eu sou um doente! Sou mesmo. Agora faz parte da minha pessoa ser um portador de CIDP.

Já no terceiro ano da doença. Será que posso ter uma carteirinha de doente ou algo parecido pra embarcar como "prioridade" nos vôos? Talvez tenha de comprar uma cadeira de rodas pra levar no carro quando for ao shopping, etc...Pra não forçar ainda mais. Como outro dia no centro de Jundiaí, andando para comprar roupas para a Julia.

É estranho pensar que se é doente e não que se está doente.
Até eu sair dessa condição é melhor admitir a verdade e me comportar de acordo.

Hoje é dia 29 de dezembro de 2009. Estou escrevendo do meu quarto de hospital no Einstein, na minha 5 internação desde 2006, me tratando agora com solumedrol (prednisolona ou corticóides e imunoglubulinas. Essa terapia é conhecida como IVIG ou intra-venous immunoglobulins). É o terceiro ciclo de cinco dias que faço em três meses para ver se os corticóides derrubam a inflamação. A CIDP é uma doença auto-imune e o solumedrol age no sistema imunológico tentando derrubar as inflamações e os anticorpos que atacam a capa de mielina dos axônios. A CIDP desmielinizante ataca a mielina dos nervos e estes já não transmitem os impulsos elétricos aos músculos com a mesma eficiência. O resultado é que os músculos ficam flácidos, pois já não se exercitam como antes.

O tratamento com corticóides é mais "forte" do que com as imunoglobulinas. Estou tomando 1g de solumedrol, o que é considerada uma dose alta, por 5 dias. 4 horas de solumedrol e depois três frascos de 2 horas de imunoglobulinas cada (flebogama).

Também iniciei um tratamento com gabapentina (neurontim) para diminuir as dores nos pés e parece mesmo que tem melhorado. Vou continuar por um bom tempo diz o Dr. Rodrigo.

Eu ainda não senti melhoras significativas, mas continuo indo...

Depois deste tratamento, o Dr Rodrigo Barbosa Thomaz, meu médico neurologista desde a polirradiculoneurite aguda de 2006, vai me colocar de novo no "day-care" para sessões mensais de pulso-terapia, como eu fazia antigamente, para fazer a manutenção.

Deus seja louvado.

Marcio



Leia mais aqui.

domingo, 6 de dezembro de 2015

A Síndrome de Guillain-Barré se espalha no Brasil

A Síndrome de Guillain-Barré é uma doença, séria, grave, que pode causar a paralisia dos membros em pouco tempo. Precisa de atendimento rápido e tratamento com Imunoglobulinas para a reversão do quadro. 


Cada paciente é um pouco diferente. Alguns são "mais diferentes" do que os outros e passam pelos mesmos sintomas com maior ou menor intensidade. Alguns se recuperam rápido, como eu (7 dias), outros demoram mais de 6 meses. Depende.

Nessas últimas semanas vimos um desenrolar atípico da Síndrome que ataca 1 em cada 100.000 pessoas. Estamos vendo no Brasil uma quantidade de casos muito grande, especialmente relacionados ao vírus Zika. Principalmente na região central e nordeste do Brasil a quantidade de casos aumentou demais. 

Até o fim de Agosto: O Piauí é o terceiro estado do Nordeste a apresentar mais casos da doença. Em Pernambuco, em 2015, foram diagnosticados 64 casos (0,69 por cem mil habitantes); na Bahia, 50 casos(0,33/100.000); 14 no Maranhão (0,21/100.000) e 10 no Ceará (0,12/100.000).

Coloquei aqui algumas manchetes:

Piauí registra 30 casos da Síndrome de Guillain-Barré
Número de casos confirmados da Síndrome de Guillain-Barré sobe para 49 na Bahia
No Maranhão, 14 casos da Síndrome de Guillain-Barré foram confirmados

Saúde registra 26 casos da síndrome de Guillain-Barré na Paraíba em 2015

Em 2014, a Paraíba registrou, no Sistema de Informação Hospitalar, nove casos de Guillain-Barré e três mortes causadas pela síndrome. Nesses casos, também não foi investigada a relação com a Zika.

Lembramos que a SGB não tem uma causa definida. Não há quem possa afirma categoricamente que foi por causa disso ou daquilo. O que se sabe é que está relacionada ao contato com algum vírus ou bactéria. A infecção por algum vírus ou bactéria (mesmo o vírus da gripe) pode "disparar" a SGB. Não é causada por um vírus e nem é contagiosa. O sistema imunológico do paciente é que sofre alguma mudança interna onde seus próprios anticorpos passam a atacar a camada de mielina dos nervos. Seu organismo se volta contra você.

Mas, existe esperança! É uma doença que pode ser tratada e nunca mais voltar. sim, é possível. Algumas vezes deixa sequelas, outras não. Após o tratamento com imunoglobulinas, os sintomas desaparecem (é o que acontece na maioria dos casos) e a vida continua. 

Fique atento para o retorno dos sintomas depois de 3 ou 4 meses. Se isso acontecer, pode ser que não tenha sido apenas a Síndrome de Guillain-Barré e sim a Polineuropatia Inflamatória Desmielinizante Crônica. A mudança que ocorreu no seu organismo pode permanecer e seu sistema imunológico vai continuar te atacando. Você vai precisar de imunoglobulinas (ou corticoides, ou algum outro medicamento) para parar o ataque. Os sintomas são praticamente os mesmos: fraqueza nas pernas e braços, formigamento contínuo, com dores ou sem. Vai precisar de tratamento constante e muito mais atenção, mas a vida continua.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Síndrome de Guillain-Barré no Maranhão

Assim como vimos na Bahia, os casos de Síndrome de Guillain-Barré começam a aparecer no Maranhão. Já são seis casos em São Luís.

Ouça a entrevista com a Dra. CRISTIANE FIQUENE CONTI, Professora do DEPARTAMENTO DE MORFOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO (UFMA). Eu já ouvi e achei muito explicativa e precisa; é uma boa fonte de informação.

Entrevista com a Dra, Cristiane Fiquene Conti

Veja também a matéria do G1 sobre a Síndrome de Guillain-Barré no G1:

Guillain-Barré no Maranhão


segunda-feira, 13 de julho de 2015

Síndrome de Guillain-Barré na Bahia

Na última semana, o Brasil passou a conhecer mais sobre a Síndrome de Guillain-Barré, ou, Polirradiculoneurite aguda, devido a uma grande quantidade de casos que apareceram no estado da Bahia.

55 casos de Síndrome de Guillain-Barré na Bahia, 1 morte.

As notícias afirmam que os casos de SGB, até então 55 casos com uma morte, podem estar relacionados com o vírus Zika, transmitido pelo mesmo "mosquito" da dengue.

É claro que não existe um "vírus de GBS" que pudesse passar de uma pessoa para outra e contaminar outros indivíduos. A Síndrome de Guillain-Barré não é contagiosa. É uma doença neurológica que pode ser disparada quando a pessoa entra em contato com algum tipo de vírus e o seu sistema imunológico identifica que os próprios nervos dessa pessoa se "parecem" com o tal vírus e os nervos passam a ser alvo do sistema imunológico. O vírus em questão pode ser o vírus de uma simples gripe, ou outros tipos de vírus, pode ser a bactéria presente no frango (a campylobacter jejuni), entre outras causas.

O que eu acho que pode estar acontecendo é que as pessoas que foram picadas pelo mosquito transmissor do vírus Zika estão reagindo a esse vírus e depois disparando a SGB. Apesar disso, vejam essa declaração:

"Embora acredite-se que os casos de Guillain-Barré na Bahia estejam diretamente relacionados a doenças como dengue, chikungunya e, sobretudo, zika, ainda não há estudos que comprovem essa associação. Portanto, não podemos estabelecer uma relação de causa e efeito", afirma o neurologista e professor Aílton Melo, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Famed/Ufba).

Leitos reservados para pacientes com Guillain-Barré

Bahia recebe estoque de imunoglobulinas

De qualquer maneira, eu não havia tido notícia de uma "epidemia" de SGB nos tempos modernos.

Espero que o estado tenha estoque suficiente de imunoglobulina para tratar todos os pacientes, já que não se pode tratar a SGB com corticoides.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Transplante de Medula Óssea para a Polineuropatia Desmielinizante Inflamatória Crônica

Faz algum tempo eu comecei a receber informações sobre um "novo" possível tratamento para a Polineuropatia Desmielinizante Inflamatória Crônica: o famoso Transplante de Medula Óssea.

No fórum da Fundação Internacional de GBS/CIDP eu havia lido sobre uma paciente que havia tentado o procedimento e obteve sucesso. Perguntei ao meu médico há uns anos atrás mas a quantidade de informações sobre o transplante para pacientes de CIDP ainda era bem pequena.

O tempo foi passando e equipes médicas foram se aprofundando no procedimento. Não se falou muito sobre isso no Simpósio da Fundação em outubro do ano passado.


Até que recebi um telefonema do Sr. Jaime, meu amigo em CIDP (ele tem praticamente todos os sintomas que eu e reage aos mesmos tratamentos da mesma maneira, meu espelho de CIDP). O médico dele falou sobre o procedimento: Transplante Autólogo de Células Tronco (em inglês: Autologous Hematopoietic Stem Cell Transplant - CIDP também é cultura!). Disse que estavam começando a fazer o procedimento para pacientes com CIDP no Brasil (para outras doenças como Esclerose Múltipla, Leucemia, etc, o procedimento já é bem utilizado).

Logo surgiram as perguntas: Será que dá certo? Será que é adequado para mim? Será que é perigoso? Será que funciona?

Quem tem CIDP ou um parente com CIDP sabe que não é fácil! Qualquer esperança de cura ou de interrupção da progressão da doença, que seja, já dá um ânimo.

A primeira informação que tive sobre o assunto foi mais ou menos assim:

O paciente é internado para exames iniciais. Sua imunidade é reduzida a zero via quimioterapia. As células tronco são removidas do osso esterno (no peito) ou do osso da bacia. As células são introduzidas na corrente sangüínea e vão migrando novamente para a medula óssea (dentro dos ossos). Isso faz com que o sistema imunológico seja "reinicializado", como um reboot de um computador, desligar e ligar. A partir daí a esperança é que o sistema imunológico produza células de defesa novas, sem as características que as faziam atacar os nervos. Um sistema imunológico "resetado"!

Jim Crone
O procedimento todo é um pouco dramático, pode durar mais de 60 dias no hospital, mas se funcionar, a doença não progride mais. Já pensou? Que maravilha!

Mais ou menos na mesma época, recebi um email da Fundação Internacional de CIDP sobre o caso de Jim Crone, um paciente com CIDP que vai passar pelo transplante. Clique aqui para ver o Blog. Tem também a página do facebook aqui. O Jim descreve em bastante detalhe tudo o que vai acontecendo; tem até uma contagem regressiva para o dia do transplante (hoje está em 27 dias). Vale a pena acompanhar.
Jim criou um blog onde conta passo-a-passo sua preparação para o transplante.

Se o procedimento funcionar, pode ser uma alternativa para que os pacientes parem de tomar imunoglobulinas ou outras medicações.