terça-feira, 29 de dezembro de 2009

No Início....a polirradiculoneurite aguda




Em 2006 eu fui diagnosticado com a Síndrome de Guillain Barre ou polirradiculoneurite aguda. É uma doença um tanto rara que afeta 1 em 100.000 habitantes. A característica principal é a paralisação (na fase aguda) dos membros superiores e inferiores. No meu caso foram as pernas.

Um belo dia eu acordei com os sintomas de gripe: olhos lacrimejando, garganta irritada, corpo mole, mas com um sintoma a mais, as pernas estavam muito fracas, quase não conseguia levantar da cama, precisava fazer um esforço enorme para dar um passo, parece que tinha uns dois quilos de chumbo
em cada pé; para descer a escada de casa então nem se fala, agarrava no corrimão e ia puxando o corpo tanto pra descer quanto para subir. Nunca tinha me sentido assim antes.

Fui ao hospital e o médico me mandou pra casa: é uma gripe forte, disse ele. Fiquei descansando em casa e os sintomas da gripe melhoraram um pouco, ficou a fraqueza nas pernas. Tive que ir atender um cliente no mesmo dia à noite no Alphaville, um bairro perto de São Paulo. Foi um custo para me locomover até o local, subir e descer as escadas. Eu sabia que algo estava muito errado. Feito o trabalho, pedi a um amigo que me deixasse no hospital, tinha de investigar o que se passava.

Dei entrada no Hospital Israelita Albert Einstein por volta de 1:30 AM e o neurologista de plantão disse que era Guillain Barré (somente pelo exame clínico dos reflexos, ou da falta de reflexos). Ainda no pronto-atendimento eu fiz a famosa punção lombar para retirar o liquor da medula espinhal, um exame típico nesses casos. Depois disso fui para o meu quarto, na internação.
Fiquei internado por 5 dias tratando com imunoglobulinas e melhorei muito. Foram 8 horas de infusão direto na veia com apenas imunoglobulinas. Também fui diagnosticado com pneumonia e a secreção pulmonar foi levada para análise para ver se continha micoplasma. A Síndrome de Guillan Barré, como também é conhecida essa doença, pode ser iniciada após o contato com vírus de gripe ou pneumonia, ou outros vírus.

O diagnóstico foi polirradiculoneurite aguda mesmo. Fiz fisio para o pulmão com ventilação assistida para fortalecer os músculos pois a evolução da doença pode levar à parada respiratória.
Voltei para a casa me sentindo bem, andando normalmente, já sem fraqueza.

Alguns meses depois continuava me sentindo fraco, mas não paralisado como na fase aguda. Com dificuldade para subir escadas e vencer obstáculos, algumas dores no quadríceps (na coxa).

Voltei ao médico, fiz a eletroneuromiografia (o pior exame que existe na face da Terra e se brincar, em todo o universo). Os resultados apontaram mesmo para uma Doença Neurológica Crônica ou Chronic Inflammatory Demyelinating Polyneuropathy, CIDP. A GBS tinha se tornado crônica.
Fui internado para fazer mais 5 dias de imunoglobulinas e continuei uma vez por mês por 4 meses. Não adiantou. Fui para a hidroterapia e melhorou ou pouco, mas depois de uns 6 meses continuou piorando.

Fiz outra eletroneuromiografia (foi difícil aguentar aqueles choques e agulhas, ma seu já sabia o que esperar). O resultado mostrou uma piora significativa na condição axonal da CIDP. Dava pra sentir mesmo no dia-a-dia que estava mais difícil pra andar.

Tive outros episódios de ter de ficar em casa com o calcanhar inflamado, cada vez mais fraco, sem equilíbrio, não posso fazer esportes (claro, ando com dificuldade, subo escadas com dificuldade), nem caminhadas, correr, as mãos estão sempre dormentes e os músculos da coxa dóem.

Pesquisando na Internet eu vi casos parecidos com o meu, muito parecidos. Mas pessoas que tiveram paralisias piores do que a minha e dores. Também há relatos de pessoas que conseguiram se curar e
têm uma vida normal.
5% dos pacientes sucumbem.

Qual será o meu destino nessa história?
Eu sei que estou cansado dessa doença, cansado de médicos e hospitais e exames e cansado do cansaço. Até quando isso vai durar?

Esqueci de falar das quedas também. Pela falta de reflexos, qualquer topada em algo no chão pode resultar em queda. E quedas geram a inflamação dos ossos.
Estou admitindo agora que estou mesmo doente. Quando alguém tem uma doença, geralmente os outros, reconhecemos que é uma característica daquela pessoa. Quando vemos uma pessoa com diabetes, por exemplo, aquilo fica sempre associado à pessoa. Eu estou vendo que também sou assim, não era apenas um gripe ou doença passageira, é uma condição. Tornou-se uma característica minha. Eu sou um doente!
Caramba. Eu sou um doente! Sou mesmo. Agora faz parte da minha pessoa ser um portador de CIDP. Já no terceiro ano da doença. Será que posso ter uma carteirinha de doente ou algo parecido pra embarcar como "prioridade" nos vôos? Talvez tenha de comprar uma cadeira de rodas pra levar no carro quando for ao shopping, etc...Pra não forçar ainda mais. Como outro dia no centro de Jundiaí, andando para comprar roupas para a Julia.

É estranho pensar que se é doente e não que se está doente.
Até eu sair dessa condição é melhor admitir a verdade e me comportar de acordo.

Hoje é dia 29 de dezembro de 2009. Estou escrevendo do meu quarto de hospital no Einstein, na minha 5 internação desde 2006, me tratando agora com solumedrol (prednisolona ou corticóides e imunoglubulinas. Essa terapia é conhecida como IVIG ou intra-venous immunoglobulins). É o terceiro ciclo de cinco dias que faço em três meses para ver se os corticóides derrubam a inflamação. A CIDP é uma doença auto-imune e o solumedrol age no sistema imunológico tentando derrubar as inflamações e os anticorpos que atacam a capa de mielina dos axônios. A CIDP desmielinizante ataca a mielina dos nervos e estes já não transmitem os impulsos elétricos aos músculos com a mesma eficiência. O resultado é que os músculos ficam flácidos, pois já não se exercitam como antes.

O tratamento com corticóides é mais "forte" do que com as imunoglobulinas. Estou tomando 1g de solumedrol, o que é considerada uma dose alta, por 5 dias. 4 horas de solumedrol e depois três frascos de 2 horas de imunoglobulinas cada (flebogama).

Também iniciei um tratamento com gabapentina (neurontim) para diminuir as dores nos pés e parece emsmo que tem melhorado. Vou continuar por um bom tempo diz o Dr. Rodrigo.

Eu ainda não senti melhoras significativas, mas continuo indo...

Depois deste tratamento, o Dr Rodrigo Barbosa Thomaz, meu médico neurologista desde a polirradiculoneurite aguda de 2006, vai me colocar de novo no "day-care" para sessões mensais de pulso-terapia, como eu fazia antigamente, para fazer a manutenção.

Deus seja louvado.

Marcio

Leia mais aqui.

15 comentários:

  1. Primeiramente, você, como muitos (por muitos outros motivos) é um guerreiro. E em segundo lugar quero agradecer por ter dedicado parte do seu tempo para escrever sua história e publicá-la.

    Meu irmão tem 22 e há exatamente um mês apresenta sintomas de Polirradiculoparia, ou Polirradiculoneurite, ou Síndrome de Guillain-Barré. Hoje, dia 02/02/2012, nesse exato momento, ele está indo ficar internado para fazer exames para confirmar (ou não) o quadro clínico que ele apresenta.

    A primeira coisa (hoje) que a gente faz quando não conhece muito sobre determinado assunto é buscar informações na internet. Assim o fiz. E, por acaso, encontrei essa página.

    Enfim, quero agradecer de novo pelas informações que escreveu aqui. E te desejar bençãos e ainda mais força pra continuar caminhando nesse tratamento contínuo. Vou orar pelo meu irmão... ... ...

    Abraço e fica com Jesus.

    Marcelo Lima

    ResponderExcluir
  2. Helenir Silva 13 de Junho 2012 03:59

    Bom dia Marcio.
    Estava estudando sobre a Sindrome Guillain Barre e ao abrir a net a primeira coisa que vi foi seu depoimento. Quero lhe desejar força, coragem para vencer as barreiras que aparecem.
    Tenha fé em Deus e vou orar por voce, para que Jesus lhe conforte e te de esperança de melhoras.
    Abraços e fique com Deus

    Helenir Silva

    ResponderExcluir
  3. Querida Helenir,

    Muito obrigado pelo seu comentário. Espero que aqui você tb encontre alguma informação.

    Grande abraço e fique com Deus,

    Marcio

    ResponderExcluir
  4. Ola Marcio pois e meu amigo so tem passo por essa face da vida e quem sabe nao e meu amigo meu nome e Jean Carlos eu Tive SGB so q a minha Foi a AGUDA aquela e plasmaferece nem fez cocega kkkkkkk nem a gramagubulina vez nada tambem kkkkkkkkkkkk eu gostaria de sabe o seguinte com quantos anos vc teve a doença e quantos anos ta agora e se vc esta 100% recuperado e se os seus dedos dos pes mexe normal e principalmente o DEDAO kkkkkkkkk gosto dessa abraço de guerreiro que Passo Por essa Batalha ass Jean Carlos Pereira

    ResponderExcluir
  5. Boa noite Márcio,hoje sei das dificuldades de se estar doente... em 2006 senti muita dor no calcanhar sem conseguir encosta-lo no chão ai começou a bateria de exames em um desses a RM foi constatado necrose no talux( morte do tecido do tornozelo ) fiz tratamento com imobilização com bota, gesso lutei para não cair na depressão, sempre fui muito ativa e derrepente tive que ficar quieta dependendo das pessoas foi muito ruim, depois de tanto colocar o peso no outro pé tbm deu a necrose, mais tratamento mais remedios, depois tive sinovite nos joelho onde é dificil para subir e descer escadas quando inflama muito da ate liquido onde tem que retirar com agulha graças a DEUS não foi preciso, depois fiz uma cirurgia no tornozelo onde foi retirado um pedaço do osso do joelho para enxertar no tornozelo na parte onde estava morto, mesmo depois da cirurgia ainda continuaram as dores, por causa das muletas que usei um bom tempo tive capsulite adesiva e tendinose no ombro direito,mais exames... tive hernia na cervical, por causa de muito medicamentos tive esofagite em 2009, fiz outro exame esse ano e continuo com esofagite e tomando medicação, no inicio deste ano fui experimentar o funcionamento daquela mangueira de pressão d'água e ate hoje meu braço não é o mesmo fiz um exame aquele bendito a eletroneuromiografia e foi constatado neuropatia bloqueio parcial de condução, quando li seu artigo entendi bem a gente desanima da um desgaste emocional profundo peço muito muito a DEUS para me ajudar a superar, me dar forças e me curar desses problemas e me ajude a encontrar algum médico que descubra como tratar e aliviar as dores, como moro em cidade do interior pra mim é mais dificil... Lembre-se assim como nós existem muitos querendo forças para viver e viver bem. Um grande abraço Márcia

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Márcia,

      Obrigado por seu comentário.
      Sim, a Polirradiculoneurite é uma doença difícil, ainda mais porque outras dores e problemas vão se juntando a ela. Mas, lendo seu comentário eu fiquei impressionado com a sua força! Nunca vi ninguém assim antes. Parabéns! Você tem muita força de vontade e vontade de viver. Eu vou me apoiar nisso para continuar lutando.
      Espero que você melhore e que Deus nos mantenha firmes e animados para continuar.

      Um grande beijo,

      Marcio Pocciotti

      Excluir
  6. Tudo joia Marcio,

    Eu tive esta doença com 15 anos de idade, tive os mesmos sintomas que você teve,meus braços e pernas foram para o espaço, atrofiaram totalmente na época, eu estava em um supermercado com minha mãe e do nado fui ao chão, ela entrou em pânico. Fiquei internado 3 dias, andava segurando por tudo, caia no chão por qualquer coisa, fiz meses de fisioterapia, a batalha foi árdua. Com muita paciência, força de vontade, apoio da família e amigos, hoje estou 100% recuperado. Peço que tenha paciência, pois a recuperação é MUITO lenta, levei uns 2 anos para me recuperar totalmente, sem nenhuma sequela, fique tranquilo que você vai se recuperar ;-). Hoje sou um atleta de musculação, pratico há 10 anos, disputo campeonatos de levantamento de peso, pois não era um probleminha desse que ia me derrubar, somos mais fortes que qualquer obstaculo. Torço por sua recuperação e qualquer dúvida, pode entrar em contato comigo por e-mail, que conversaremos melhor sobre isso. Um grande abraço....Willian

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Willian,
      Estou passando por este problema com o meu filho de 12 anos e gostaria de conversar com vc por email, se possivel me passa seu email! O meu é (ines.crodrigues@bol.com.br).

      Fico no aguardo!

      Excluir
  7. Olá Marcio, DEUS o abençoe infinitamente. Tenho uma amiga que considero irmã que foi acomentida de Polirradiculoneurite ainda na década de 70. Hoje, dia 04/02/2013 ela vive sozinha na casa dela onde costuma ter quedas constantes. Anda com muita dificuldade e com o auxilio de duas bengalas canadense mas é incapaz de subir um degrau de 15 cm. Fico muito preocupado com ela, que além das quedas e algumas fraturas, principalmente nas costelas, ainda tem a recorrência de pneumonia. Toma uma quantidade muito grande de medicamentos porque as dores são atrozes. Segundo a familia dela, quando foi concluido o diagnóstico ela foi o terceiro caso relatado no Brasil. Sempre me interessei pelo caso dela. Agora estou empenhado em conseguir uma cadeira de rodas motorizada para ver se posso aliviar pelo menos um pouco o sofrimento dela. Para percorrer uma distância plana de aproximadamente 15 metros ela leva seguramente de 5 a 10 minutos. É muito triste vê-la nessa condição. Ela viveu com a mãe até o final de 2000, quando a mãe veio a falecer. Desde então ela vive só, como que numa clausura. Foi muito bom ter lido seu relato aqui porque me dá luz sobre como realmente pode ser diminuido o sofrimento dela. Para que você tenha uma idéia, os joelhos dela se voltam para trás formando um arqueamento nas pernas de modo a expor e muito os músculos das panturilhas. Por causa das dificuldade de movimentos, porque ela tem em consequênca da doença uma hipotonia muito acentuada nos membros superiores, vem o sobrepeso e por conseguinte o diabetes. Veja como é complicado a situação. Por isso eu faço coro ao seu sofrimento e desejo-lhe toda a sorte do mundo e te desejo ainda muita força, igual eu procuro transmitir para a minha amiga acometida, a Vilma. Um forte abraço. Flavio.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Flavio,

      Agradeço muito o seu comentário. Fiquei impressionado com a vida da sua amiga. Que sofrimento! Será que poderíamos visitá-la? É minha experiência que as pessoas se sentem melhor quando falam a respeito de sua condição com outras pessoas. Vamos ver se podemos fazer algo por ela. Se quiser me mande um email em mpocciot@gmail.com.

      Um grande abraço e obrigado novamente pelas palavras de encorajamento.

      Marcio

      Excluir
  8. Pois é, um dos primeiros casos públicos foi o do cantor Ronnie Von, eu fui acometido por esta terrível doença em 1986. Fiquei internado por 6 meses no Hospital do Ibirapuera, antigo hospital Gastroclínica, a base de corticóides e tambem gama globulina. Exames como neuromiografia perdí a conta, assim como biópsia dos nervos das pernas, e tudo começou como relatado acima, uma simples gripe que virou pneumonia e as consequências foram aparecendo, dormencia nos dedos dos pés, paralisia das pernas, braços, intestino, respiração.... entre muitas coisas. Durante os 6 meses de internação tinha alta aos finais de semana para ficar com a família, da cadeira de rodas passei para muletas e depois bengalas, foram 2 anos de muito sofrimento, pois as dores são insuportáveis. Mas graças à Deus, a fé e tantos medicamentos que tomei melhorei muito, o mais demorado foi a sensibilidade das mãos (tato), mas que tambem voltou. Hoje não sei como estou vivo, e se precisarem de qqr informação é só s manifestar, terei o maior prazer em apoiar os que sofrem deste mal. Abs e fiquem com Deus. Carlos Roberto - S.P.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Carlos Roberto,

      Muito obrigado por seu comentário. Fico feliz em saber que você melhorou muito. Eu não passei por tudo isso, mas imagino como dever ter sido difícil ficar esse tempo todo no hospital. Admiro muito sua força.
      Gostaria de saber mais sobre o "intestino" que você mencionou. Quais foram as mudanças? Pergunto porque eu senti muito também e meu intestino nunca mais foi o mesmo.

      Grande abraço,

      Marcio

      Excluir
    2. Olá Carlos Roberto, você poderia citar quais remédios você tomou para sair desta situação...Eu também estou com o mesmo problema, se puderes me ajudar escreva para meu e.mail particular flaviodenovaes@hotmail.com ficarei agradecido.Flávio de Novaes Curitiba PR

      Excluir
  9. Amigo tenho esta doença desde 2004 e não é facil, voltou a paralisia nas membros inferores;não consigo ficar na ponta dos pés e calcanhar e não consigo correr.
    Fiz trtamento com corticoide e fiquei qualse cego, pois provocou graucoma.
    Hoje tomo azatioprina( imunossupressor)

    ResponderExcluir
  10. Boa tarde! Achei essa página, pque me encontro internada, fazendo pulsoterapia, me sinto fraca, com parestesia lombar e pernas, e mãos... Os sintomas começaram mais ou menos uns 30 dias, meu desespero em encontrar o diagnostico me levaram ao HC Curitiba, estou sendo mto bem tratada e amparada por a equipe incrível, DEUS CONTINUA NO CONTROLE.

    ResponderExcluir